Tudo parecia indicar que Marine Le Pen iria disputar o Palácio do Eliseu pela quarta vez, em 2027, mas uma decisão judicial poderá vir a impedir a sua candidatura. Afinal, o desvio de sete milhões de euros está sob a lupa da justiça e a acusação pede prisão e proibição de exercer cargos públicos. Quão real é a ameaça que paira sobre a líder nacionalista?
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Olhando para trás, para a carreira política de Marine Le Pen, pode dizer-se que ela progrediu de uma forma pouco rápida, mas também imparável. Desde a obtenção de 18% dos votos nas eleições presidenciais de 2012, passando pelo sucesso nas eleições europeias e chegando duas vezes à segunda volta em campanhas presidenciais sucessivas, até à quebra do teto de vidro nas eleições parlamentares e ao rompimento do "cordão sanitário" em torno da sua formação.
A frente republicana bloqueou a vitória eleitoral da Unidade Nacional (UN), mas os 141 deputados nacionalistas constituem uma força suficientemente séria para tornar o novo governo de Michel Barnier dependente do apoio de Le Pen. O centro-direita reconheceu que a direita radical é um parceiro melhor do que a esquerda e acabou assim com a prática do isolamento. A cereja no topo do bolo para Le Pen seria, naturalmente, ganhar a presidência em 2027, mas não só os rivais políticos, mas também o poder judiciário poderiam ficar no caminho.
Contabilidade criativa da líder nacionalista
As investigações relacionadas com as actividades de Marine Le Pen durante o tempo em que a (então) líder da Frente Nacional foi deputada ao Parlamento Europeu arrastam-se há uma década. O Ministério Público francês estava interessado na contratação fictícia de assistentes parlamentares entre 2004 e 2016, que serviu para angariar fundos adicionais para o partido de extrema-direita. Segundo os investigadores, ao longo de doze anos, na sequência de um "desvio sistemático e organizado de fundos públicos", mais de vinte militantes da FN desviaram cerca de 7 milhões de euros.
Se o tribunal considerar Marine Le Pen cúmplice deste crime e der provimento ao pedido do Ministério Público de uma multa de 300 mil euros e de cinco anos de prisão (três dos quais suspensos), será o fim do sonho de presidência da líder nacionalista francesa, pelo menos nos tempos mais próximos. Tanto mais que a pena de prisão será acompanhada da inibição do exercício de cargos públicos, estando também prevista a aplicação provisória desta última pena.
Isto significa que, mesmo em caso de recurso, Le Pen não poderá candidatar-se às eleições até que este seja julgado e, eventualmente, absolvido. Os juízes franceses teriam demonstrado aqui muito mais determinação do que os juízes norte-americanos, que foram muito conservadores no caso de Trump, atrasando o veredito e, de facto, permitindo que o republicano realizasse uma campanha presidencial bem-sucedida, que os processos em curso não prejudicaram.
Julgamento criminal ou político?
Le Pen, seguindo o exemplo do presidente eleito dos Estados Unidos, afirma que está completamente inocente e que o processo em curso é puramente político. Espera-se que os juízes e procuradores que defendem o establishment façam o que Macron e outros políticos não conseguiram fazer - impedir que o líder da direita radical ganhe o poder. Embora o RN tenha entretanto devolvido, com relutância, um milhão de euros ao Parlamento Europeu, os activistas do partido negam que isso constitua uma admissão de culpa.
O risco de ser privado da possibilidade de concorrer às eleições presidenciais, mesmo antes de o recurso ser julgado, é particularmente revoltante, o que, segundo os apoiantes de Le Pen e a própria, constituiria uma repressão sem precedentes. O político fala de uma "pena de morte política" e compara o comportamento do sistema judicial francês às práticas dos regimes autoritários.
No entanto, se compararmos o veredito potencial no caso de Marine Le Pen com outras decisões judiciais sobre desvio de fundos públicos, verificamos que a punição sugerida pela acusação não é particularmente severa. Nos últimos anos, qualquer pessoa condenada por este crime foi também proibida de exercer cargos públicos, pelo que o eventual abandono desta medida representaria mesmo uma clemência excecional por parte dos juízes para com o líder da Unidade Nacional.
Haverá um Brutus à espreita no RN?
Inesperada, no contexto do julgamento de Le Pen, foi a declaração de Jordan Bardelli, que lidera formalmente o RN há vários anos e tem sido apontado como o sucessor de Marine. Isto porque o jovem eurodeputado anunciou que ninguém que tenha sido condenado validamente por um tribunal se candidatará às listas do partido. Alguns vêem este facto como um momento infeliz, enquanto outros vêem-no como uma manobra deliberada da estrela em ascensão da extrema-direita francesa.
A declaração de Bardelli pode ser interpretada como uma crença num desfecho positivo para Le Pen no julgamento, mas ele pode muito bem estar a afiar os dentes para substituir o seu mentor na próxima campanha presidencial, e uma possível condenação facilitar-lhe-ia significativamente a tarefa. O presidente da RN deve, no entanto, recordar que, em 1998, quando o então número dois dos nacionalistas, Bruno Mégret, tentou aproveitar os problemas judiciais de Le Pen sénior para assumir a direção do partido, o resultado foi um desastre e a sua saída para o esquecimento político. Esta é uma das razões pelas quais Bardella prefere jogar pelo seguro, esperando calmamente pela sua vez.
Para já, Marine continua a ser a favorita para representar o RN nas próximas eleições e uma das principais, se não a principal candidata a substituir Emmanuel Macron no Palácio do Eliseu. Como os Estados Unidos demonstraram, os julgamentos não são um problema para os políticos da direita radical. Pelo menos, desde que não terminem com uma sentença de culpa, e os juízes franceses podem revelar-se menos simpáticos - no caso de Le Pen, podemos provavelmente esperar novos acordos no início do próximo ano.